ATA DA DÉCIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 06.6.1991.

 


Aos seis dias do mês de junho do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sexta Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada a homenagear a República da Itália, conforme Requerimento nº 01/91, do Vereador Vicente Dutra. Às dezessete horas e vinte minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, 1º Vice-Presidente da Casa; Senhores Gianni Martini, Cônsul da Itália em Porto Alegre; Antonio Alberto, Presidente Dell’Imigrazione Italiana; Carmine Motta, representante da Regione da Calabria; Carlos Alberto Bicchieli, Presidente da Câmara Comercial Brasil-Itália; Cármine Severino, Vice-Presidente do Centro Calabrês do Rio Grande do Sul; Ferruccio Bianchini, representando os Trevisani nel Mondo; Vereador Vicente Dutra, na ocasião, Secretário “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente registrou o recebimento de correspondência do Vice-Governador do Estado, Senhor João Gilberto Lucas Coelho e do Deputado Estadual Valdir Fraga, acerca desta solenidade, e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, desejou ao boas vindas ao Cônsul da Itália em Porto Alegre, homenageando aquele País no transcurso da sua data comemorativa à proclamação da República. O Vereador Vicente Dutra, em nome das Bancadas do PDS, PT, PMDB, PCB e PL, saudou o Cônsul da Itália, rendendo homenagem à República Italiana pelo transcurso da data da sua proclamação da República e destacando a opulência política, social e econômica daquele País. O Vereador Ervino Besson, em nome da Bancada do PDT, prestou homenagem à Itália, falando da presença forte da cultura italiana nas localidades brasileiras onde se instalaram os imigrantes oriundos do País ora homenageado. E o Vereador Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, assinalou a influência da cultura italiana no Brasil, analisando o modelo político e econômico hoje vigente na Itália. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Gianni Martini, que agradeceu a homenagem prestada pela Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente pronunciou-se acerca da solenidade a apresentou as boas vindas ao Cônsul da Itália em Porto Alegre. Às dezoito horas e dez minutos, agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos da presente Sessão, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalho foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”. Do que eu, Vicente Dutra, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Damos por abertos os trabalhos da presente Sessão. Senhores e Senhoras, a iniciativa do Ver. Vicente Dutra saúda a implantação da República naquele País, em 02 de junho de 1946 e, ao mesmo tempo, homenageia seu povo, cujos laços de amizade com o Brasil e o Rio Grande do Sul se confundem com nossa própria história e cultura. Homenageando a Itália, estamos, também, reverenciando os imigrantes italianos, que prestaram inestimável contribuição ao nosso Estado. São eles responsáveis por grande parte do seu desenvolvimento, hoje traduzido por um sólido parque industrial reconhecido em âmbito nacional e internacional.

Homenagear a Itália é cumprimentar seus cidadãos pela vitória da democracia em seu País, onde as diversas categorias da estrutura social tornam-se presentes nas decisões políticas através de seus representantes, fazendo da Itália um modelo de vivência democrática e desenvolvimento econômico. É, pois, num clima de alegria e confraternização que esta Casa, cujos integrantes contam com expressivo número de descendentes de italianos, inclusive eu, realiza hoje esta Sessão Solene.

Informamos o recebimento de telegramas do Sr. Vice-Governador do Estado, Exmo Sr. João Gilberto Lucas Coelho, agradecendo o convite e dizendo da sua impossibilidade de comparecer, e do Exmo Sr. Deputado Estadual Valdir Fraga, Presidente da Comissão de Finanças e Planejamento da Assembléia Legislativa do Estado.

Com a palavra o Ver. Omar Ferri.

 

O SR. OMAR FERRI: Srs. Vereadores, Senhoras e Senhores, em primeiro lugar, quero agradecer ao Ver. Vicente Dutra por me permitir falar em primeiro lugar, visto que às 18h deverei esta no Hotel Plaza São Rafael, onde se realiza a Conferência Interamericana dos Advogados Democratas da América. Está presente o Sr. Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, a OAB, de quem, desde ontem, sou uma espécie de cicerone no Sul. Fui amavelmente convidado a assistir a conferência que ele proferirá no evento.

A homenagem que esta Casa presta anualmente à República Italiana parte do fundo de nossos corações; do fundo dos corações dos oriundi, pois, num total de trinta e três Vereadores, a terça parte é formada por descendentes de italianos; do fundo dos corações dos demais Vereadores, que amam e admiram a bela e grande Itália. Desde que viemos para esta Casa, a Casa não tem esquecido de homenagear a República Italiana. E eu, pessoalmente, sempre tive longo contato não só com a Embaixada brasileira deste País, mas principalmente com o Consulado da Itália no Rio Grande do Sul. Posso dizer, com muita satisfação, que fui amigo pessoal do Cônsul Hilário Dinalli e amigo pessoal do Cônsul Vitorino Rotandaro e Exmas esposa e filha,  assim como, a partir da chegada do Cônsul Gianni Martini, eu quero ter a honra, igualmente, de ser seu amigo.

Em nome do meu Partido e em meu nome pessoal, desejo a V. Exª as boas-vindas a nossa terra, ao Rio Grande do Sul, o Estado do pampa gaúcho, e desejo que V. Exª se sinta, aqui no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, como se estivesse em sua própria casa. V. Exª pode contar com o apreço e a admiração e com o aplauso de seus patrícios deste Estado, especialmente desta Câmara de Vereadores, que hoje tem a honra e o prazer de lhe homenagear. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vicente Dutra, que fala em nome da sua Bancada, o PDS, e em nome das Bancadas do PT, do PMDB, do PDT, do PCB e do PL.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Meus Senhores, minhas Senhoras, Vereadores, Sr. Cônsul, é com muita alegria e honrados que saudamos a V. Exª e, o fazendo, também pedimos que transmita a vossa digníssima esposa, dona Medea, fazendo votos de que sua permanência em nosso chão seja partilhada sobretudo pela amizade, a qual costumamos cultivar com os amigos que fazem do Rio Grande do Sul, particularmente desta Cidade, o seu chão.

Em 04 de junho de 1946, foi proclamada a República Italiana, como resultado de plebiscito que conclamou o povo à reconstrução do Estado arrasado pela Segunda Guerra Mundial. A República Italiana, como diz sua Constituição, baseia-se no trabalho. Foi essencialmente o trabalho e o esforço do povo italiano que possibilitou a reconstrução do País a partir de ruínas. Desde 04 de junho de 1946 assistimos o desenrolar de um formidável fenômeno, bem mais importante que um simples milagre econômico. Tal fenômeno transporta a Itália da condição de país subdesenvolvido à situação de grande Estado industrial, de base capitalista. As transformações econômicas possibilitaram, entre outras coisas, acentuado surto educacional, amplo sistema de divulgação de informações e forte reabilitação do sindicalismo, ainda que tenha trazido à luz profundas contradições da sociedade, que, uma vez bem diagnosticadas, vêm sendo enfrentadas com êxito. O povo italiano, no pleno exercício da democracia, é o único responsável pela reconstrução. É, portanto, o autor da moderna Itália, que hoje homenageamos.

Na recém iniciada década de 1990, aspectos predominantes na sociedade italiana apontam à prosperidade e à segurança. Aumentou notavelmente o nível de renda da maioria da população, a cultura intensifica-se, os organismos políticos adquirem progressivamente maior flexibilidade. Em menos de meio século, a Itália tornou-se país opulento.

A reestruturação da agricultura, iniciada nos anos 50, acompanhou o fantástico desenvolvimento industrial. Com efeito, a partir da reforma agrária, no seio do setor agrícola desenvolveu-se uma pujante base econômica, com produtividade elevada e mão-de-obra assalariada nos moldes industriais italianos, isto é, agricultura modernizada pela ação dos sindicatos e usufruindo altos níveis de segurança social. Na indústria, é por demais conhecido que o processo de modernização tornou-se irreversível. A tecnologia italiana impõe-se no mercado internacional. As experiências de laboratório transferem-se para a nova cultura industrial, que é avançada, de ponta, e que toma a direção do aproveitamento mais racional dos recursos naturais com extraordinário proveito à ecologia. A indústria italiana tornou-se modelar não só pela qualidade dos seus produtos, mas também pela periódica revisão de programas e técnicas que objetivam a preservação do meio ambiente.

Imensos se tornaram os investimentos no exterior. A bandeira branca, vermelha e verde se internacionaliza cada vez mais através de grandes empreendimentos; imensos capitais são destinados a investimentos produtivos no estrangeiro, em expansão sempre crescente. O fermento que faz crescer o setor industrial repercute no setor bancário e financeiro. Instituições bancárias desenvolvem estratégias de expansão no exterior. Os bancos italianos movem-se à vontade nos maiores centros financeiros do mundo, respaldados por sólido sistema que envolve um dos maiores volumes de poupadores do planeta, comparável ao volume de poupadores do Japão. A par da grande indústria, as pequenas e médias empresas agilizam a economia, tornam-se elementos característicos e catalisadores do mercado de trabalho. A persistência da microempresa é promissora marca da descentralização produtiva e elemento permanente no desenvolvimento econômico italiano.

A Itália confirma seu papel de importância na construção da Europa Unida. Tem fornecido evidências de coerência e coragem para avançar no caminho que conduz à Comunidade Européia. Dá resposta positiva ao grande desafio europeu dos próximos anos, mobilizando, além das forças econômicas, as forças políticas. A união da Comunidade Européia é desafio ao governo italiano, que vem surpreendendo pela capacidade de coordenar esforços e solucionar problemas. As bases institucionais tornam-se mais sólidas, são estabelecidos limites mais rígidos para a despesa pública, ampliam-se os limites da autonomia municipal, província e regional, pois são nas menores frações administrativas que os cidadãos são ouvidos com maior intensidade, que podem melhor exercer seus direitos.

No plano político, há um claro objetivo, que se pode perceber mesmo com um oceano de permeio: os italianos trabalham no sentido de tornar cada vez mais moderna a estrutura do Estado, trabalham ininterruptamente para agilizar a máquina estatal, para que a mesma esteja adaptada às novas realidades que se impõem e para que propicie as transformações sociais que vão se fazendo necessárias. As reformas políticas já atingem as duas Câmaras do Parlamento, na tentativa de facilitar a tramitação de leis; passam a vigorar novas normas de alternância no poder que são compatíveis com a sociedade moderna.

Há extraordinário florescimento intelectual em todas as manifestações: do pensamento político à teoria sindical; da crítica artística à teoria do conhecimento. É a nova Itália que ressurgiu dos destroços da guerra, construída pelos mesmos italianos que se identificam e são identificados pela magnífica produção cultural de todos os tempos. São ainda os mesmos italianos que fizeram e fazem parte da sociedade de países novos como o nosso, que constituem parte da nossa estrutura social.

No Rio Grande do Sul, povoaram e desenvolveram a encosta superior do Nordeste, no século passado, plantando, entre outras coisas, uvas e cidades. Não só diversificaram nossa produção implantando indústrias, como diversificaram nosso tipo físico, nosso sotaque, nossos usos e costumes. Sobretudo, transportaram, na bagagem que atravessou o oceano, uma ética relacionada à família e ao trabalho que serve como motivo de orgulho aos gaúchos. Eram italianos de Vêneto, da Lombardia, italianos do norte, que receberam, à custa de imensos sacrifícios, a almejada posse da terra gaúcha do planalto, que lhes garantiu o sustento. A exitosa colonização que caracteriza o Rio Grande enobrece o Estado e o diferencia de outros da Federação, como São Paulo, cuja maior imigração foi constituída por trabalhadores assalariados.

A família italiana setentrional ampliou-se na colônias e estendeu-se nas cidades. Da “Divina Comédia”, de Dante, trouxe alguns fragmentos; muito mais trouxe no colorido do dialeto e da culinária; acrescentou a polenta dourada à nossa mesa, fez seu o nosso chimarrão. Fundiu-se a imigrantes procedentes de toda a Itália, que desde muito viviam nas cidades rio-grandenses, como Porto Alegre. Estes eram quase sempre italianos meridionais, especialmente calabreses, mais especialmente ainda de Morano Calabro, Província de Cosenza, da bela Morano, que é nossa cidade-irmã. Diretamente do Pollino ao Guaíba.

São nossos italianos das cidades que ampliaram as camadas sociais intermediárias, que auxiliaram na formação de uma estrutura social urbana mais equilibrada, que ampliaram e ampliam vivências culturais com alargadas famílias, com técnicas de produção diferentes; enfim, com acréscimos ao fundo de cultura lusitana, a exemplo de outros grupos étnicos. Sempre pretenderam e continuam pretendendo preservar a identidade étnica, mas essa identidade é a italiana, pois, se suas diferenças regionais permanecem, emprestando à cidade ricos e diversificados matizes, não permanecem entre nós as rupturas ou cisões que afligem a Itália, entre homens do norte e do sul.

Italianos de Porto Alegre, hoje homenageados, podem mesmo devolver à pátria de origem o exemplo de convivência profícua e de adaptação. Se, de uma parte, os nossos italianos esqueceram diferenças étnicas nos campos da instrução, do trabalho, da constituição da família, enfim, na vida comunitária porto-alegrense sempre preservaram carinho por essa Itália e se auto-identificaram com ela através de muitas gerações.

Como outros representantes do povo, tenho orgulho dessa origem e sou fascinado pelo colorido e pela riqueza que a “brava gente” empresta à minha Cidade.

Para finalizar, Cônsul Gianni Martini, uma poesia de Jayme Caetano Braun, que é um grande poeta nosso, sobre a hospitalidade: (Procede à leitura do poema Hospitalidade, de Jayme Caetano Braun.)

Seja bem-vindo, Cônsul. Cumprimentos a todos os italianos pela passagem do Dia da Itália. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Queremos registrar as presenças da Srª Maria de Gezu e do Ver. Clovis Ilgenfritz.

Concedemos a palavra ao Ver. Ervino Besson, que falará em nome da Bancada do PDT.

 

O SR. ERVINO BESSON: Sr. Cônsul, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, para mim, hoje, é uma alegria estar aqui nesta tribuna para falar da Itália. Para um descendente de italianos extrair do coração as recordações das histórias trazidas por nossos avós e, acima de tudo, sonhar um dia poder conhecer. Como gostaria, neste momento, de falar da Itália, falar de sua história, dos seus momentos, do seu povo, dos seus costumes, mas não me é possível.

Falo, então, da colonização italiana do Rio Grande do Sul, que penso que assim estarei falando dos costumes e tradições italianas, tradições estas caracterizadas e vividas pelos descendentes, que se distinguem dos demais descendentes de outros povos. O brasileiro-italiano se caracteriza por ser um povo amigo, um povo irmão, de coração fraterno. A sua casa é a casa de seus irmãos; a sua família é unida, e normalmente trabalha em conjunto. Na hora da necessidade, o descendente de italiano é unido, forte, trabalhador, como foram os da colonização.

Na alimentação, fica a característica de comer bem, e se destacam grandes festas entre as famílias; e as festas religiosas sempre regadas com suas comidas típicas: massa, polenta, radite, galeto e, acima de tudo, um bom vinho.

Na diversão, fica a característica do jogo de cartas, destacando-se a bríscola, a canastra, bem como a tradição, que se mantém até hoje, que é o “jogo de la mora”. No jogo de bocha está uma das maiores características dos descendentes italianos. Na cantoria, podemos destacar  “Massolin de Fiori”,” La Bella Violeta”, “La Virginella como folclore sempre presente nas festividades dos descendentes.

Sr. Cônsul, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, domingo passado, depois de trinta e um anos, voltei à região onde meus avós, quando vieram da Itália, se instalaram. Foram recordações algumas tristes, algumas alegres. E, casualmente, fomos a uma festa religiosa, à procissão de Nossa Senhora do Caravaggio, onde havia aproximadamente quatro a cinco mil pessoas. Naquele dia, muitas coisas nós lembramos, muitos acontecimentos. Também não podemos, neste momento, deixar de agradecer a esse povo que nos recebeu, a essa terra que nos recebeu, mas temos que lembrar que a Itália também deu a sua colaboração para o engrandecimento deste País.

E lembro que hoje o mundo inteiro está preocupado com o meio ambiente e a preservação da natureza. Eu me recordo, ainda no ninho, quando a minha avó, o meu avô – é costume da família italiana ter o maior respeito ao nono e à nona, como nós chamávamos. E vejam, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, o que nos chamou a atenção naquela região são os locais onde existem famílias italianas: são preservadas as matas virgens, praticamente todas as famílias de origem italiana. Eu não quero aqui criticar os outros países, mas faltou alguma coisa, e nós comentávamos isso, juntamente com o pessoal. Faltou alguma coisa no ninho, e nos chamou a atenção, porque vimos locais desertos, virgens, e ali existe uma família residindo. Portanto, espero que o Brasil  o receba, assim como o nosso Estado, com todo o carinho, assim como fomos recebidos, pois os meus avós vieram de Gênova. Portanto, a Itália tem o maior respeito de todos, por tudo que ela representou aqui no Brasil e nos outros países.

Com a permissão da Mesa e de todos os presentes, vou tentar cantar aqui um pedaço de uma canção italiana. (Canta.)

Parabéns, Cônsul. Parabéns, Itália. Parabéns, Brasil. Obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Artur Zanella.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Prezados Senhores e Senhoras, aqueles que privam aqui conosco sabem uma série de coisas. A primeira é que esta Casa, por ser do povo, alterna uma série de assuntos. Hoje foi um dia muito difícil para esta Casa: recebemos a visita do Sr. Prefeito Municipal, com problemas com os funcionários municipais, que vêm de uma greve, aquela não deve assustar ninguém. Quando fui fazer um curso em Turim, de chegada, lembro de que recebi o nome dos teatros, dos cinemas, dos restaurantes, e as datas prováveis das greves que ocorreriam, com dia, motivo da greve e recomendações. Então, a Itália coexiste com isso, mas nós ainda estamos aprendendo.

Esta homenagem estava prevista para outro dia, foi transferida em função do falecimento de um dos grandes políticos deste Estado, ex-Presidente desta Casa, ex-Deputado, ex-Suplente de Senador. Daí porque esta Sessão realiza-se hoje não com tantos Vereadores como é de costume. Tive a oportunidade, no ano passado, em homenagem semelhante por mim requerida, de dizer tudo aquilo que nós sempre aproveitamos para falar desse nosso relacionamento com a nossa velha Itália.

O Ver. Vicente Dutra, autor deste Requerimento, daqui a alguns dias estará convidando os italianos para a inauguração da Praça Itália. É um Projeto dele, Ver. Vicente Dutra.

O Ervino Besson, que eu não sabia que era cantor, ao que eu sei até a idade militar não falava português, falava só italiano. A minha família, quando vejo nos papeis da minha nona, aparece lá que ela era analfabeta, porque ela não falava nem escrevia em português, mas ela falava e escrevia muito bem o italiano. E o meu avô, que foi para a cidade de Vila Ipê, na época – Cidade de Vacaria –, foi topógrafo, contratado com verbas do governo italiano para ser uma espécie de fiscal, para ver se aqueles italianos que havia recebido terras do governo efetivamente tinham recebido corretamente aquelas terras, porque, para onde eles foram, que hoje é essa beleza, na época era uma aventura maior, seguramente, que o faroeste americano.

Então, nós efetivamente temos essas ligações profundas com a nossa Itália, e eu assinalava agora, ali, que, no tempo em que a República Italiana existe, seis Governadores deste Estado eram de origem italiana – e não são sete porque o último, que foi o meu candidato e o candidato do Ver. Vicente Dutra, perdeu para o candidato do Ver. Besson; senão, seriam sete os Governadores descendentes de italianos que governariam este Estado.

Eu sempre digo, e vou dizer novamente: se nós quisermos, aqui no Estado, aqui no Brasil, um procurarmos um modelo de industrialização para nós, um modelo político, nós temos que procurar esse exemplo na Itália, que é efetivamente o exemplo que nós vamos seguir futuramente. E, seguramente, não sei ainda se com o meu voto, mas seguramente, quando chegarmos ao parlamentarismo – e chegaremos lá –, o exemplo será o parlamentarismo da Itália, que, com todas as suas mudanças, as quedas de gabinetes, tirou um país destroçado pela guerra e transformou-o nesta grande potência econômica que é hoje, social, cultural, um país que desmente tudo aquilo que nós apresentamos como desculpa para os nossos problemas. A Itália não tem petróleo, não tem minério de ferro, não tem essa área agricultável imensa que nós temos, a maior parte são montanhas, a neve. Enfim, tudo aquilo que nós apresentamos como de difícil concepção, com esta precariedade de recursos naturais, a Itália passou por cima. A Itália, que era dona do mundo – eu não conheço nenhuma nação, tem uma frase que eu sempre uso nesta Casa, que é Roma locuta, causa finita, eu não conheço mais nenhum império mundial que tenha uma frase como esta, atestando aquela civilização que dominou o mundo –, agora ressurge.

Nós temos ligações profundas, sim, com os imigrantes que de lá vieram. Ligações, por exemplo, que eu nunca deixo de citar, como Giuseppe Garibaldi, que aqui lutou pela democracia, pela República Rio-Grandense, e tantos outros italianos que não vale a pena citar, ou seria muito longa a lista para citar, mas que lutaram aqui conosco na Guerra dos Farrapos, quando o Rio Grande do Sul, pela primeira vez neste País, procurou a República e, durante dez anos, durante nove anos, foi República.

E, para não falar muito e baixar um pouco essa análise econômica, tecnocrática, nós aqui, Sr. Cônsul – não sei há quanto tempo está no Brasil –, o senhor aqui não vai acompanhar a não ser as finais do Campeonato Europeu de Futebol - o senhor vai ver um jogo do Estrela Vermelha, que há poucos dias eu vi, o Estrela Vermelha da Iugoslávia foi campeão da Europa -, mas o Campeonato Italiano o senhor vai acompanhar todos os domingos pela manhã. Não se preocupe porque o futebol o senhor vai acompanhar, vai discutir. O meu time lá é o Roma, por causa do Falcão, mas essa ligação mais íntima sempre terá.

Finalizando, diria que nós, aqui, temos o maior interesse em manter esse relacionamento que sempre tivemos com as entidades sociais italianas, políticas. O senhor sucede o Cônsul Rotandaro, que era um amigo desta Cidade, desta Casa; o senhor tem ao seu lado Antonio Alberti, que há poucos dias deu um exemplo de democracia, de voto, a escolha dos seus representantes nesta Cidade, que, terminado o embate eleitoral, se unem em função do desenvolvimento dessas ligações. Não vou citar todos, pois são conhecidos, apenas o mais jovem, o Dr. Richieri, que, lá na Câmara de Comércio Brasil-Itália, tem uma importância muito grande para que possamos, cada vez mais, aumentar esse intercâmbio comercial, porque atrás disso sempre vem o intercâmbio cultural.

Esperamos que a sua presença nesta Cidade sirva para que o senhor saia – quando sair – com a convicção de que nós, que somos descendentes de italianos, os Zanellas, de Montova; os Vicentes, da Calábria; os Bessons, genoveses; todos aqueles que aqui estão sonham com aquilo que alguns conseguem, outros não: o sonho que meu avô tinha de novamente visitar a Itália, o que não conseguiu; o meu pai também, de conhecê-la. Eu já tive a oportunidade de ir duas vezes lá; os meus filhos, que querem ir; o filho do Vicente, que não sei se voltou, está lá estudando.

Quero que o senhor saiba, Sr. Cônsul, que esta Casa e esta Cidade têm entre suas ligações mais profundas a ligação com o povo italiano, nosso povo, o meu povo com o seu povo. E que o senhor saiba que, nesta Casa, o senhor e aquilo que o senhor representa têm um lugar muito grande no nosso coração. O dia de hoje é típico, um dia com problemas, mas que o senhor saiba que nós, de coração, estamos com o senhor, estamos com a pátria que o senhor representa, que, na verdade, junto com o Brasil, é a nossa pátria. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Exmo Sr. Gianni Martini, Cônsul da Itália no Rio Grande do Sul.

 

O SR. GIANNI MARTINI: Senhores e Senhoras, é com muita honra que estou aqui hoje, representando o meu País nesta homenagem que esta Câmara Municipal faz à Itália por ocasião da sua Data Nacional. Como se sabe, são muito fortes os laços de amizade e colaboração que, felizmente, existem e unem nossos dois países. Neste generoso Rio Grande, foram acolhidos os nossos emigrantes que há mais de meio século têm sido conquistados por esta terra e seu povo hospitaleiro. Estes nossos emigrantes têm colaborado com o seu trabalho e a sua dedicação à construção dessa comunidade onde hoje estão bem integrados.

A Itália, que deu a esta terra parte de sua gente, tem pelo Brasil um carinho especial que se traduz em grande intercâmbio comercial, cooperação técnica e cultural. Neste clima de grande fraternidade e mútua admiração, gostaria de fazer ao Sr. Presidente desta Casa, aos Srs. Vereadores e aos amigos aqui presentes, um sincero agradecimento do povo italiano. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h10min.)

 

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